
A epopéia de Morbeck
"Uma das mais fantásticas fases da história de Mato Grosso é, sem sombra de dúvidas, a que envolve o período da revolução armada dos garimpeiros da antiga região leste contra o Governo do Estado, e que teve no engenheiro agrônomo JOSÉ MORBECK o seu memorável líder. Essa fase ocorreu na década de 20, mais precisamente de 1924 – período pré-revolucionário, no governo de Pedro Celestino, ao início de 1927, no segundo ano do governo de Mário Corrêa da Costa – com a celebração de um armistício entre Morbeck e Mário Corrêa.
Essa revolução foi, ao que se imagina, propositalmente subestimada pelos historiadores da época – Estêvão de Mendonça, Virgílio Corrêa, dentre outros, não só porque os governos estaduais que a provocaram estavam em vulnerável posição política, econômica e social, como também porque, a toda evidência, não quiseram se indispor com os mesmos, induvidosamente amigos seus… Rubens de Mendonça, filho do Estêvão e outro grande historiador, apenas salientou, em uma de suas obras: “Foi uma luta fratricida que banhou de sangue o leste de Mato Grosso.”
Outros apenas citaram alguns ataques de jagunços de Morbeck em Cuiabá, a pedido do líder político Pedro Celestino, contra bandoleiros que agitavam o governo do Presidente do Estado, General Manuel Caetano de Faria e Albuquerque, obrigando deputados desafetos a fugirem para o sul do estado (Corumbá). Quem trouxe algumas informações preciosas a respeito, e assim mesmo incorrendo em vários equívocos, foi o médico cearense Luís Sabóya Ribeiro, que clinicou em Poxoréu nos anos 30 e 40, através do seu livro “Caçadores de Diamantes”, publicado em 1950, no Rio de Janeiro. O restante foi levantado por historiadores recentes, inclusive eu.
Quem pretende conhecer praticamente ‘tudo’ a respeito dessa inusitada revolução, leia “MORBECK – o Caudilho do Garças”, que acabo de publicar, sem desmerecer os demais historiadores que trataram do tema, posto que enriqueci minha obra com a essência dos seus trabalhos. Agradeço aqui o providencial apoio financeiro, para os trabalhos de pesquisas e elaboração desta obra, que recebi dos empresários Áureo Cândido Costa, Luiz Fernando Homem de Carvalho e Ênio Serafim Serafini, bem como dos desembargadores Juvenal Pereira da Silva e Manoel Ornellas de Almeida. A publicação foi patrocinada pelo Governo do Estado, via Secretaria de Cultura".
(*) Ailon do Carmo é advogado e historiador local, membro da Academia Mato-grossense de Letras (Cadeira nº 12), e da Academia Rondonopolitana de Letras (Cadeira nº 1).
Fonte: http://www.atribunamt.com.br/2014/12/a-epopeia-de-morbeck/
Comentários do Editor:
Recebi de presente esta semana do Sr. Milton Pessoa Morbeck Filho essa maravilhosa obra "MORBECK, O caudilho do Garças", de autoria de Ailon do Carmo, conforme conta a matéria acima. Confesso que me emocionei pelos detalhes da única revolução que ocorreu no Estado do Mato Grosso. Emocionei não só pelo fato de ser sobrinho-neto de José Morbeck, mas também pela coragem e ao seu idealismo em defesa de mais de 15.000 garimpeiros da região do Garças. "Trabalhadores sofridos que moravam nesta região, gente que veio do estado da Bahia, Maranhão, Minas Gerais, e de outros lugares viajando à pé, à cavalo, sofrendo, adoecendo e perdendo entes queridos durante esta aventura. Por que de uma hora para outra estes trabalhadores teriam que entregar seus patrimônios construídos com o suor, lágrimas e dor para satisfazer os caprichos e interesses de governadores poderosos?"
Dr. José Morbeck (engenheiro agrônomo) como Diretor da Repartição de Terras, Minas e Colonização de Mato Grosso na época, assinou um parecer contrário a lei lei nº 707, de 15/07/1915 que dava concessão, por um período de 50 anos, à multinacional inglesa ("Cia. Indústria e Comércio"), para explorar as jazidas minerais, metais, metalóides, fósseis minerais etc; existentes no vale do Rio Garças e seus afluentes, desde as cabeceiras até a sua foz no Rio Araguaia. O governador Dom Aquino Corrêa desistiu de impor a concessão após receber do Dr. José Morbeck, um singelo, expressivo e histórico telegrama com os seguintes dizeres: "Ou cai a concessão ou arrebenta a revolução".
Posteriormente, Dr. José Morbeck enfrentou o Governo do Mato Grosso, que queria cobrar impostos dos garimpeiros, sem que houvesse nenhum benefício por parte do poder Executivo mato-grossense para a população da região em que ele liderava (escolas, estradas, saúde, etc, etc). Sua vontade prevaleceu, com muita luta e honra!
Foto: Ailon do Carmo - Autor

